Relatório da ANM reacende alerta sobre segurança de barragens em Minas Gerais
- Guilherme Almeida

- 18 de jul.
- 3 min de leitura

Minas Gerais continua no topo do ranking das barragens de mineração em situação crítica no Brasil, com 25 das 74 estruturas consideradas em estado de emergência segundo levantamento mais recente da Agência Nacional de Mineração (ANM). Entre elas, duas estão no mais alto nível de risco, com rompimento iminente, ambas localizadas no território mineiro. O cenário acende um alerta não apenas para cidades historicamente afetadas por desastres ambientais, como Brumadinho e Mariana, mas para todo o estado, onde estruturas semelhantes seguem operando sob sérias anomalias e fiscalização intensificada. A maior parte dessas barragens pertence à mineradora Vale, incluindo nomes que já são conhecidos da população, como Forquilha I, II e III, Sul Superior e Xingu.
Ao todo, o Estado tem 18 barragens classificadas no nível 1 de emergência, três em nível 2 e duas em nível 3, o estágio mais grave, em que o rompimento é considerado iminente ou já em curso. Em nível de alerta — quando há irregularidades documentais ou pequenas falhas que não indicam risco imediato, mas exigem monitoramento — são nove estruturas localizadas em Minas. O tipo de construção das barragens também preocupa: 11 das que estão em situação de emergência são do modelo a montante, o mesmo usado nas estruturas que se romperam em Mariana, em 2015, e em Brumadinho, em 2019, provocando tragédias humanas, ambientais e sociais de proporções catastróficas.
O caso de Brumadinho, onde o rompimento da barragem da Vale em Córrego do Feijão causou 272 mortes e deixou marcas profundas na vida dos moradores, faz com que a população local permaneça em constante estado de vigilância. Mesmo com os avanços na fiscalização e novas normas de segurança, o risco não desapareceu, principalmente em razão da permanência de estruturas semelhantes operando no estado sob riscos reconhecidos pelo próprio governo federal. A barragem de Forquilha III, situada em Ouro Preto, é uma das duas classificadas em nível 3 de emergência e pertence à Vale. A outra, Serra Azul, fica em Itatiaiuçu e é operada pela ArcelorMittal.
As barragens em nível 2, como Forquilha I e II (também da Vale), estão sob ações corretivas que ainda não foram capazes de controlar as anomalias identificadas. Já aquelas em nível 1, como a barragem de Xingu, em Mariana, apresentam problemas que, embora mais simples, precisam ser sanados com agilidade para evitar agravamentos. A barragem de Xingu, inclusive, teve sua classificação reduzida de nível 2 para 1 após novas investigações geotécnicas e melhorias em sua instrumentação de monitoramento.
O levantamento aponta ainda que, de janeiro até agora, houve aumento no número de barragens em alerta e no nível 1 de emergência, o que mostra que os problemas estruturais continuam se acumulando em um estado que ainda tenta cicatrizar feridas deixadas pelos desastres anteriores. Além da fiscalização da ANM, cresce a pressão social para que mineradoras e o poder público promovam mudanças efetivas na política de gestão de barragens, com mais transparência, responsabilidade e diálogo com as comunidades afetadas.
Em Brumadinho, o trauma ainda é recente, e qualquer atualização sobre o risco de rompimento de barragens em outras cidades reativa o medo coletivo. Muitos moradores ainda enfrentam as consequências emocionais e materiais da tragédia de 2019, e a notícia de que o Estado lidera novamente os números de barragens críticas causa revolta e insegurança. O sentimento compartilhado por familiares de vítimas e sobreviventes é de que a impunidade e a lentidão das ações governamentais contribuem para que o risco permaneça pairando sobre a cabeça de milhares de mineiros.
Diante desse panorama, cresce o clamor por ações preventivas reais, que não fiquem restritas ao papel. Enquanto isso, a população de Brumadinho segue atenta — e tem razões de sobra para isso. As sirenes podem não estar soando agora, mas a memória e o medo seguem vivos em cada morador que viu, ouviu e viveu de perto os efeitos de uma negligência que não pode se repetir.


















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