Saúde mental no trabalho: Minas registra quase 3 mil afastamentos em 3 anos
- Talles Costa
- há 3 dias
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Os transtornos mentais relacionados ao trabalho têm crescido em Minas Gerais e atingido de forma mais intensa os profissionais da saúde. Dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) mostram que, entre 2022 e 2025, foram registradas 2.804 notificações de afastamentos por problemas psicológicos associados à atividade profissional. Quatro das cinco categorias mais afetadas estão na área da saúde, representando sozinhas 37% de todos os casos.
Entre os trabalhadores mais impactados estão técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde e enfermeiros, que aparecem no topo da lista de notificações. As estatísticas revelam que somente os técnicos de enfermagem respondem por mais de 150 registros nesse período. Já os agentes comunitários somam mais de 140 casos, seguidos por enfermeiros, assistentes administrativos e faxineiros.
As cidades mineiras com maior número de notificações são Juiz de Fora, Montes Claros, Uberlândia, Belo Horizonte, Contagem e Passos. Em Juiz de Fora, o levantamento identificou mais de 660 ocorrências, o que coloca o município na liderança do ranking estadual.
O ano de 2024 foi o que mais concentrou registros de transtornos mentais relacionados ao trabalho, com quase mil casos notificados, um aumento de quase 30% em relação ao ano anterior. O cenário preocupa especialistas, que apontam a pressão diária, a sobrecarga de jornadas, o assédio moral e a baixa remuneração como fatores decisivos para o adoecimento da categoria, especialmente no serviço público.
O estudo indica ainda que trabalhadores da saúde convivem com uma rotina marcada pelo estresse elevado, agravado pelo contato constante com situações de sofrimento, além de condições precárias de trabalho. Muitos acabam buscando apoio em uso contínuo de medicamentos como ansiolíticos e antidepressivos, enquanto o acesso ao acompanhamento psicológico e psiquiátrico oferecido pelo Estado ainda é limitado e demorado.
Outro ponto identificado é o impacto da terceirização e da precarização dentro das unidades hospitalares, que geram instabilidade profissional e aumentam a pressão sobre os servidores. Trabalhadores relatam dificuldades de adaptação a mudanças de lotação e até afastamentos por transtornos mentais após situações de assédio ou pressão extrema.
Mesmo com a criação de programas estaduais voltados para o acolhimento, os relatos indicam que o atendimento formal ainda é insuficiente, e em muitos casos a assistência ocorre de forma improvisada, com colegas oferecendo apoio dentro do ambiente de trabalho. Essa realidade demonstra que o tema precisa ser tratado como prioridade para que os profissionais responsáveis por cuidar da população também tenham condições dignas de preservar sua própria saúde mental.
Em Brumadinho, onde o sistema de saúde ainda lida com as consequências sociais e psicológicas do desastre da mineração, o cenário estadual reflete uma preocupação local: trabalhadores pressionados pela rotina exaustiva e pela falta de valorização, em um ambiente em que a saúde mental já é um desafio para toda a comunidade.
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