Páscoa no Brasil: um retrato da diversidade religiosa nas celebrações da ressurreição
- Talles Costa

- 18 de abr.
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Atualizado: 19 de abr.

Em um país de profundas raízes cristãs e crescente pluralidade religiosa, a Páscoa não é vivida de forma uniforme. Enquanto católicos e evangélicos renovam a esperança na ressurreição de Cristo, adventistas refletem sobre seu significado escatológico, testemunhas de Jeová realizam sua “Comemoração da Morte de Cristo” e religiões de matriz não cristã – como o budismo e as tradições afro-brasileiras – encontram outros caminhos para a renovação espiritual neste período.
Segundo o IBGE, em 2022, 49% dos brasileiros se declaravam católicos, 26% evangélicos e 14% sem religião, com o restante composto por espíritas, adeptos de religiões afro-brasileiras, budistas, judeus, muçulmanos e outras tradições. Essa distribuição reflete-se na multiplicidade de ritos e celebrações neste período do calendário.
Católicos: Semana Santa e o rito da Eucaristia
Para a Igreja Católica, a Páscoa é o ápice da Semana Santa. As celebrações começam no Domingo de Ramos (recordação da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém) e avançam pela Quinta‑feira Santa (instituição da Eucaristia), Sexta‑feira da Paixão (Veneração da Cruz) e Vigília Pascal, até o Domingo de Páscoa, quando se proclama “Aleluia!” em missas solenes.
A Eucaristia, celebrada como sacramento central, segue o rito exposto pela doutrina católica: o pão e o vinho são consagrados como Corpo e Sangue de Cristo, fundamento da fé na presença real de Jesus na liturgia. Padre João da Silva, pároco da Paróquia Nossa Senhora do Carmo (BH), comenta:
“A liturgia pascal reúne silêncio e intensidade. Do toque solene do sino na Vigília à profusão de velas acesas, cada gesto convida o fiel ao mistério da ressurreição.”
Em Brumadinho, a Paróquia São Sebastião prepara, anualmente, uma grande celebração, com novenas, missas, vigílias e demais celebrações. Centenas de fiéis acompanham os acontecimentos, além, claro, de cumprirem as penitências.
Evangélicos: cultos vibrantes e ênfase na ressurreição
Nas igrejas evangélicas tradicionais (batistas, presbiterianas, metodistas), há cultos especiais na Sexta‑feira Santa e no Domingo de Páscoa, com leituras bíblicas e cânticos que proclamam vitória sobre a morte. Já nas pentecostais e neopentecostais, é comum realizar vigílias de oração durante a madrugada, estudos bíblicos focados em Cristo como “Cordeiro que venceu” e testemunhos de transformação de vida.
Pastora Ana Paula Souza, da Igreja Batista de Recife, relata: “Para nós, a Páscoa é tempo de renúncia ao velho homem e celebração da nova vida em Cristo. Nossos jovens participaram de noites de jejum e louvor para aprofundar esse sentido.”
Adventistas do Sétimo Dia: ceia memorial e olhar escatológico
Embora não adotem festas litúrgicas específicas, os adventistas reservam o período para intensificar estudos sobre o sacrifício de Cristo e sua relação com a segunda vinda. Segundo o site especializado Votumais, entre os pontos centrais estão: libertação espiritual: Jesus como Cordeiro Pascal que redime do pecado; ceia do Senhor: celebração memorial alusiva à Última Ceia, com pão e vinho como símbolos; esperança escatológica: reforço da fé na promessa do retorno de Cristo; vitória sobre a morte: reafirmação da ressurreição e da vida eterna.
Irmã Cláudia Ribeiro, líder de Estudos Bíblicos em São Paulo, explica: “A Páscoa nos lembra que, assim como o povo de Israel foi liberto do Egito, somos libertados do pecado. É um convite à reflexão e à perseverança espiritual.”
Testemunhas de Jeová: a Celebração da Morte de Cristo
Diferente de outras denominações cristãs, as Testemunhas de Jeová não comemoram a ressurreição, mas realizam anualmente a “Celebração da Morte de Cristo”, evento que segue o modelo da Última Ceia e ocorre em 14 de Nisã do calendário judaico. Conforme registra, nessa reunião — a mais importante do ano para a denominação — um ministro faz oração e um discurso sobre o sacrifício de Jesus, enquanto os presentes observam a passagem dos emblemas (pão e vinho) .
Umbanda e religiões afro-brasileiras: sincretismo e renovação energética
Nas tradições de matriz africana, não há uma celebração pascal cristã, mas muitos terreiros realizam rituais de limpeza espiritual, defumação e oferendas a Oxalá (sincretizado com Jesus) buscando purificação e equilíbrio para o ano vindouro. A “Páscoa de Oxalá” é celebrada com cânticos em iorubá, danças e consultas aos guias, enfatizando o renascimento da força vital.
Budismo: período de meditação e impermanência
Os budistas não comemoram a Páscoa, mas aproveitam o feriado prolongado para retiros de meditação e práticas de atenção plena, refletindo sobre impermanência, compaixão e renascimento interior. Em algumas comunidades, como relatado pelo Estado de Minas em 2015, grupos aproveitaram o feriado para “meditar pela paz mundial” em centros de práticas.
Espiritismo e outras correntes
Entre os espíritas kardecistas, a Páscoa é vista como símbolo de renovação moral e espiritual, tema recorrente em palestras e estudos mediúnicos realizados em centros espíritas. Judaísmo e islamismo não celebram a Páscoa cristã, mas mantêm em seus calendários o Pessach (judaico) e o Ramadã (islâmico), datas que também enfocam libertação e purificação.
A Páscoa no Brasil transcende fronteiras doutrinárias e revela, em cada rito, o anseio humano por renascimento e significado. Seja pelas procissões silenciosas, os cultos que vibram ao som de louvores, as meditações silenciosas ou os rituais de terreiro, cada fé encontra em abril um momento para renovar compromissos espirituais e reforçar a esperança em dias melhores.


















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