Pesquisa inédita da UFMG mostra que tragédia-crime continua afetando saúde e economia de Brumadinho
- Talles Costa

- há 3 horas
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Sete anos após a tragédia-crime provocada pela Vale, um novo estudo da UFMG confirma que Brumadinho segue mergulhado em adoecimento, insegurança ambiental e perdas econômicas profundas, revelando que o desastre nunca terminou para milhares de famílias do município.
Sete anos depois do rompimento da Barragem B1, os impactos seguem pulsando no cotidiano brumadinhense. Um levantamento realizado pelo Projeto Brumadinho UFMG revela um cenário que se tornou permanente: doenças físicas e emocionais agravadas, insegurança no consumo de água e alimentos, medo da contaminação e um abalo econômico que ainda deve causar prejuízos bilionários nas próximas décadas. Segundo a pesquisa, sete em cada dez domicílios da cidade registraram algum tipo de adoecimento após o desastre, incluindo estresse, insônia, ansiedade e depressão, além da piora de doenças já existentes. Mais da metade dos adultos entrevistados passou por tratamento psicológico ou psiquiátrico desde 2019, o que reforça o peso emocional que permanece sobre a população.
O estudo revela ainda que 76% das famílias enfrentam dificuldades para acessar consultas, exames e tratamentos, resultado do aumento repentino da demanda e da sobrecarga na rede pública de saúde. A insegurança também se estende à rotina alimentar: 77% das famílias relatam medo constante de contaminação, uma percepção alimentada pelos dados ambientais que mostram a permanência de metais pesados como manganês, arsênio, chumbo, mercúrio e cádmio em diferentes pontos do território. A água, segundo a pesquisa, continua sendo o principal vetor de risco, com 85% dos domicílios afirmando que os corpos d’água foram afetados e 75% relatando problemas no fornecimento e na qualidade do recurso.
Esse conjunto de medos e incertezas deu origem ao que especialistas chamam de “lama invisível”: a desconfiança cotidiana em relação ao que se come, se bebe e se produz em Brumadinho. Para entidades ligadas aos atingidos, o estudo apenas confirma aquilo que já era vivido no dia a dia.
Além dos danos à saúde e ao ambiente, o levantamento aponta para um impacto econômico de longo prazo. De acordo com o pesquisador da UFMG Ricardo Machado Ruiz, Brumadinho poderia perder entre R$ 7 bilhões e R$ 9 bilhões de PIB ao longo dos próximos anos caso não fossem aplicados os recursos do acordo de reparação firmado em 2021. Com a utilização das verbas, essa perda cai para uma estimativa entre R$ 4,2 bilhões e R$ 5,4 bilhões — mas ainda assim representa um prejuízo gigantesco para o município. Ele explica que, antes da tragédia, a mineração ocupava papel central na economia local. Após o rompimento, houve um forte crescimento de empregos ligados diretamente à reparação, o que amenizou os efeitos imediatos, mas não sustentou pequenos negócios e atividades informais. “A cidade não terá equilíbrio enquanto não diversificar seu setor produtivo. Se nada for feito, essa perda bilionária seguirá marcada no futuro do município”, reforça.
Para famílias, lideranças comunitárias e entidades de atingidos, a pesquisa representa uma chancela científica para aquilo que se repete em cada casa de Brumadinho desde 2019: o desastre não ficou no passado. Ele está diluído na água, no ar, no medo, na saúde e na economia.
Às vésperas de completar sete anos do rompimento, o estudo reacende discussões fundamentais sobre reparação integral, políticas públicas e responsabilidade histórica. Em Brumadinho, o luto continua vivo — não apenas pelas vidas perdidas, mas pelo cotidiano que nunca foi totalmente reconstruído.
Fonte: Raul Mariano



















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