Fim do PTR, decisão do TJMG e pressão popular: Brumadinho entre a incerteza e a possível retomada do benefício
- Talles Costa

- 14 de nov.
- 3 min de leitura

O fim do Programa de Transferência de Renda (PTR) em outubro de 2025 desencadeou uma onda de indignação em Brumadinho, reacendendo o debate sobre reparação, responsabilidades e promessas políticas. O rompimento da barragem da Vale completará sete anos em janeiro, mas seus efeitos sociais, econômicos e psicológicos continuam profundos — e a interrupção do auxílio que sustentou 162 mil pessoas ao longo da bacia do Paraopeba apenas reforçou o sentimento de abandono. Agora, uma nova decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG),reacende a esperança: o tribunal determinou que a Vale deve continuar pagando o benefício, seguindo os mesmos critérios anteriores. Mas o desfecho ainda é incerto, já que a mineradora pode recorrer.
Enquanto isso, Brumadinho vive dias tensos, dividida entre a ansiedade pela efetivação da decisão e a cobrança por promessas feitas por Gabriel Parreiras e Guilherme Morais durante a campanha eleitoral, garantindo um auxílio municipal caso o PTR fosse encerrado.
A tragédia nunca acaba quando as sirenes se calam. Ela reverbera nos dias seguintes, nos meses, nos anos — e principalmente nos vazios deixados pelo Estado e pela empresa responsável. O encerramento do PTR não representou apenas o fim de um repasse financeiro, mas desmoronou uma rotina construída com esforço e medo. “A gente perdeu não só o dinheiro, mas a segurança que ele dava”, relatou M.D.R.S., moradora de uma comunidade rural, que ainda tenta reorganizar a vida com o fim do auxílio. O valor, segundo ela, era destinado ao básico: gás, remédios e alimentação. Sem ele, a vulnerabilidade retorna como fantasma familiar.
A economia da cidade, moldada involuntariamente pelo dinheiro da reparação, já sente os efeitos. Pequenos comércios relatam queda brusca nas vendas. Prestadores de serviço dizem que pedidos diminuíram substancialmente. A interrupção do PTR parece ter retirado um pilar silencioso que mantinha Brumadinho de pé.
H.C.P., trabalhador autônomo da sede, sintetiza a revolta que se espalhou pelo município: “O PTR foi um direito conquistado. Agora, a gente espera que a Prefeitura cumpra o que prometeu na campanha. Disseram que, se o programa acabasse, criariam um auxílio municipal. A hora de mostrar compromisso éagora.”
O problema, porém, é o tempo. Ainda que o secretário de Governo e Reparação tenha anunciado que a Prefeitura prevê um auxílio municipal a partir de 2026, a lacuna até lá coloca milhares de famílias em risco. Novembro e dezembro já não previsão de repasse, até o momento.
A audiência pública realizada na Câmara Municipal no final de outubro expôs a tensão crescente. Moradores cobraram transparência, agilidade e seriedade. Movimentos sociais reforçaram que a reparação está longe de terminar. Representantes do Executivo justificaram que o município mantém diálogo com a Vale, MPMG, MPF e outras instituições, mas não apresentaram alternativas imediatas.
É nesse cenário de incerteza que a decisão do TJMG surge como um possível divisor de águas. Em segundo grau, o tribunal determinou que a Vale tem obrigação de continuar pagando o benefício. A decisão, no entanto, ainda não é definitiva, pois a mineradora pode recorrer.
O secretário Guilherme Morais comemorou: “Vencemos em primeira instância, a Vale recorreu, e agora uma decisão de segunda instância. Ainda cabe recurso, mas é uma conquistaimportante.”
O prefeito Gabriel Parreiras também se pronunciou, afirmando que a vitória momentânea é resultado de “luta conjunta” entre atingidos e governo municipal, reforçando que a reparação está longe do fim.
Mesmo assim, até o fechamento desta edição, a Vale não havia se manifestado sobre a determinação judicial. A ausência de posicionamento da empresa adiciona mais uma camada de incerteza para uma cidade que já vive tantas.
A pergunta que ecoa entre moradores não é apenas “o PTR volta?”, mas “quando?” ou até mesmo “será que volta?”— porque fome, conta atrasada e aluguel não esperam trâmites judiciais ou promessas de campanha política.
Brumadinho continua em compasso de espera. Espera que a Justiça confirme o que determinações judiciais já apontam. Espera que a atual gestão cumpra a promessa feita diante de milhares de eleitores. Espera que o Estado esteja ao lado de quem perdeu o chão em segundos.
Enquanto isso, a crônica da reparação — escrita em dor, luta e resistência — continua sendo contada dia após dia. Porque, para Brumadinho, a tragédia não ficou no passado. Ela segue moldando o presente com força implacável.
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