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Dossiê internacional acusa Vale de práticas predatórias e violações em Minas

  • Foto do escritor: Talles Costa
    Talles Costa
  • 10 de jun.
  • 3 min de leitura
Foto: Luiz Santana/ ALMG (Brasil De Fato)
Foto: Luiz Santana/ ALMG (Brasil De Fato)

Brumadinho volta a ocupar o centro de um debate internacional sobre os impactos da mineração após a divulgação de um dossiê que acusa a Vale de promover violações socioambientais sistemáticas em Minas Gerais. O relatório, entregue diretamente aos acionistas da empresa durante a Assembleia Geral Ordinária de 2025, propõe a criação de uma Comissão Internacional Independente para investigar e monitorar os danos causados pela atuação da mineradora em diversos territórios do estado. A proposta é que essa comissão funcione como canal permanente de denúncias e auditoria social, diante da percepção de que a autovigilância da empresa é insuficiente.

A iniciativa foi liderada pelo Instituto Cordilheira e pelo Movimento pelas Serras e Águas de Minas (MovSAM), com apoio da organização internacional Earthworks, dos Estados Unidos, e denuncia uma série de abusos, entre eles a negligência na retirada de estruturas de barragens de alto risco e a manipulação do pânico em comunidades como estratégia de exploração mineral. Um dos casos destacados é o da barragem Sul Superior, em Barão de Cocais, onde moradores foram evacuados de madrugada após a elevação repentina do nível de risco da estrutura, sem qualquer aviso ou treinamento prévio, o que o dossiê classifica como “terrorismo de barragem”.

O documento reforça que, mesmo após os desastres de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), a Vale insiste em práticas que colocam vidas em risco. No caso de Brumadinho, que deixou 272 vítimas e um rastro de destruição ambiental no rio Paraopeba, a empresa é acusada de não promover mudanças efetivas em sua gestão de segurança. Em vez disso, retomou atividades em áreas sensíveis, como na própria mina Córrego do Feijão, e avançou com projetos em outras regiões, como Apolo e Serra da Serpentina, desconsiderando a fragilidade dos territórios e o sofrimento da população atingida.

Especialistas ouvidos pelos autores do dossiê apontam que a Vale tem ignorado tecnologias modernas disponíveis para descomissionar barragens com agilidade e segurança. Segundo o professor Daniel Neri, do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), essa omissão reforça que a empresa está mais preocupada com os relatórios para acionistas do que com a segurança das comunidades. A prática da mineradora, segundo ele, é marcada por promessas vazias e estratégias de marketing que maquiam sua atuação predatória.

A denúncia também alerta para o uso de discursos ligados à transição energética como justificativa para intensificar a exploração mineral. Para os autores, a chamada “mineração verde” é uma contradição em termos, já que qualquer extração em larga escala envolve destruição ambiental. A jornalista e ambientalista Carolina de Moura Campos, uma das redatoras do documento, aponta que a Vale tenta se apresentar como protagonista da solução climática, mas segue operando com base em um modelo extrativista violento e excludente. Essa crítica ganha ainda mais peso diante da participação da mineradora nos preparativos para a COP 30, que será realizada no Brasil e corre o risco de se transformar em palco para legitimar o avanço do setor mineral sob o disfarce de sustentabilidade.

A população de Brumadinho, que ainda convive com as feridas da tragédia de 2019, aparece como símbolo do que o dossiê denuncia: a repetição de práticas abusivas, a ausência de reparação plena e o desprezo pelas vidas impactadas. Os autores do relatório concluem que a Vale opera com um discurso que mascara a continuidade das violações e alertam que, se não houver pressão efetiva de investidores, organismos internacionais e sociedade civil, os erros do passado continuarão sendo reproduzidos com novas vítimas.

A Vale, por sua vez, afirmou em nota que o conteúdo do dossiê se baseia em temas já debatidos amplamente com a sociedade e que as acusações não refletem os avanços feitos nos últimos anos. A empresa defendeu que as reparações dos desastres de Brumadinho e Mariana estão sob acordos homologados judicialmente e supervisionados por instituições públicas, e garantiu que cumpre rigorosamente as exigências legais nos processos de licenciamento ambiental.

Enquanto a mineradora reforça sua versão de compromisso com os direitos humanos e o meio ambiente, os moradores de Brumadinho e outras regiões atingidas seguem vivendo sob o medo de novas tragédias, com sirenes, simulados de emergência e um cotidiano marcado pela insegurança. O dossiê, ao trazer esse alerta diretamente à mesa dos acionistas, busca provocar não só o debate, mas a ação concreta daqueles que têm o poder de exigir mudanças reais na atuação da Vale.


*Informações retiradada de uma reportagem veiculada pelo Brasil De Fato, em 4 de junho de 2025, assinada por Flora Villela e sendo Editada por Ana Carolina Vasconcelos.

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