Em um dia de sol brilhante no litoral deste novo mundo, o povo lusitano, montado em seus cavalos de madeira, chegou ao litoral da Terra de Vera cruz. Portavam soberba, escorbuto e sarna em uma missão principal que não passava por aqueles lados.
Deixaram ali os cruzmaltinos hastes e flâmulas lusitanas e, com aquela linguagem alienígena, disseram aos silvícolas do local que aquilo ali agora era de Portugal e continuaram sua viagem, já que naquele instante era a páprica e a pimenta de reino que mais importava para este povo e isto estava na Índia.
Passado uns trinta anos, em 1531, a primeira expedição do novo território fora realizada pelos cabralienses aqui já em transformação do ambiente.
Neste tempo, esta terra de Vera Cruz tinha abençoado os lusitanos apenas com a substituição do tingimento de tecidos. Antes, os fenícios e seu famoso múrex. Agora, um vermelho vindo de um tal de Pau-Brasil.
Mas o sonho imperial não passava por árvores que tingiam tecido, e sim, pelos tão sonhados, adorados e miticamente reluzentes metais preciosos.
Desta feita, a querência destes dançadores de fado, estava na busca por ouro e prata e escravização de silvícolas. Para tanto, era necessário entrar nos sertões, enfrentar toda ordem de perigos do interior do Brasil e combater nativos que ainda precisavam receber a pacificação cristã de suas espadas e de seus mosquetes.
Neste desejo/necessidade da coroa portuguesa, surge a figura dos sertanistas, os Bandeirantes Paulistas que, a mando da coroa, expandiam suas terras em busca de ouro e prata, assim, abrindo caminho por lugares ainda não acessados possibilitando que bandeiras futuras tivessem sucesso sobre aquelas que não alcançassem o objetivo principal e reluzente.
Assim, aos 56 anos de idade, experimentado, dono de posses, casado recentemente com uma mulher bem mais nova, A Senhora Marina Betim, Fernão Dias Pais, não precisava de mais nada na vida. Mas obteve a honra de comandar aquela que seria sua última aventura: desbravar a terra das minas gerais em busca da lenda descrita pelos nativos, Itaberaba-açú, aportuguesado para Sabaraboçú, o que significa na língua nativa “montanha” ou “serra resplandecente”.
Foi a partir da montanha de prata e depois a montanha verde das esmeraldas que fez com que Fernão iniciasse o que lhe tiraria a vida: A Grande Bandeira de desbravamento de Minas Gerais.
Seguindo uma orientação mais ou menos já conhecida pelos bandeirantes, a serra do espinhaço e Mantiqueira tinha já uma certa orientação para o caminhar destes desbravadores, levando em conta os principais rios: O Doce e São Francisco.
Ocorre que em busca dos metais preciosos, a sub-bacia do São Francisco leva a divisão da Bandeira em três frentes: mais à esquerda no vale do Rio Pará, à direita acompanhando o Rio das Velhas e a do centro, pelo Vale do Paraopeba.
Aí nossa história começa, pois, neste desbravar, os primeiros povoados vão sendo constituídos, como por exemplo, Piedade do Paraopeba, Aranha, São José do Paraopeba e Brumado do Paraopeba. Aqui estamos falando do século XVII.
Não fora encontrado pela bandeira de Fernão Dias os metais preciosos, mas abriu o sertão, guerreou com silvícolas, dominando, matando e escravizando, deixando o caminho aberto para as próximas bandeiras e construindo inúmeros vilarejos, o que nos coloca em um local de importância na história deste Brasil e a elegância da Mineralidade desta nossa história brumadinhense.
Mas e o ouro? Depois, o vale do Tripuí ofertou a abundância aos donos de caravelas, a conhecida Ouro Preto e outras que só foram possíveis por haver um Dias Pais, que levou a existir Piedade do Paraopeba, Aranha, São José do Paraopeba e Brumado.
Nosso lugar no mundo, nossa aurora cosmológica é cheia de aventuras, batalhas, domínios e histórias de esperança amor, medo e ódio do acaso.
Que tenhamos mais do nosso passado para que saibamos o que somos hoje e o que poderemos ser no futuro destes filhos de Brumadinho.
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Marciano Reis
Fiscal Ambiental de Brumadinho, Advogado especialista em Meio Ambiente e Mineração, Técnico em Agropecuária, Bacharel e Licenciatura em Filosofia.
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