"Risco é coisa do passado": fala de governador desconsidera trauma de Brumadinho
- Moisés Oliveira

- 10 de nov.
- 2 min de leitura

Em declaração que gerou indignação entre moradores e familiares de vítimas, o governador Romeu Zema afirmou nesta quinta-feira (06) que os riscos de rompimento de barragens em Minas Gerais são "coisa do passado", ignorando o trauma ainda vivo na comunidade de Brumadinho, que em janeiro completará sete anos do maior desastre socioambiental da história do estado. A fala ocorreu durante agenda de compromissos do governador, que mencionou os aniversários dos rompimentos de Mariana e Brumadinho como referências temporais, mas garantiu que o descomissionamento das estruturas tornaria o estado progressivamente mais seguro.
Para os brumadinhenses que perderam familiares, amigos e viram suas vidas serem destruídas pela lama da Vale, a declaração soou como um afrontoso apagamento da dor que permanece presente no cotidiano da cidade. Muitos questionam como os riscos podem ser considerados passado quando comunidades inteiras ainda convivem com as sequelas psicológicas, econômicas e ambientais do desastre, além de permanecerem em estado de alerta constante diante de outras estruturas minerárias que continuam ativas na região.
A afirmação do governador desconsidera o fato de que, mesmo após sete anos, centenas de famílias ainda aguardam reparação integral e medidas concretas que garantam que tragédia similar não se repetirá. Especialistas em segurança de barragens alertam que, embora avanços tenham ocorrido, o risco zero não existe e a declaração pode transmitir uma falsa sensação de segurança à população, fragilizando a cultura de prevenção que deveria ser mantida.
Organizações de atingidos e defensores de direitos humanos classificaram a fala como uma tentativa de revisionismo histórico que minimiza a gravidade dos crimes corporativos e a responsabilidade do poder público na fiscalização. Para essas entidades, declarar que os riscos são passado representa um desserviço à memória das 272 vítimas fatais de Brumadinho e um desrespeito aos sobreviventes que carregam traumas indeléveis.
A realidade atual de Brumadinho contradiz a declaração otimista do governador. Muitos moradores ainda dependem de caminhões-pipa para abastecimento de água, comunidades tradicionais tiveram seus modos de vida destruídos e o Rio Paraopeba, vital para a região, segue com comprometimento em trechos afetados pela lama tóxica. Essas condições mantêm a população em estado de vulnerabilidade permanente, tornando a fala de Zema particularmente insensível.
Psicólogos que atendem a população local alertam que declarações como essa podem reacender traumas e aprofundar o sofrimento mental de sobreviventes e familiares das vítimas. O anúncio de que os riscos seriam "coisa do passado" ignora a realidade de que, para a comunidade de Brumadinho, o passado continua vivo no presente, manifestando-se em pesadelos, ansiedade e medo constante especialmente durante o período chuvoso.
A fala governamental também preocupa pela possível influência no relaxamento de políticas públicas de segurança e na redução de recursos destinados à fiscalização de barragens. Ambientalistas e geólogos alertam que a mineração continua sendo uma atividade de risco inerente no estado, exigindo vigilância permanente e aprimoramento contínuo dos protocolos de segurança, não uma declaração de missão cumprida.


















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