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Punho Cerrado: o símbolo que ainda incomoda muitos


Foto: Flávia Campos

Hoje, 20 de novembro, o Brasil para para lembrar Zumbi dos Palmares, o Dia da Consciência Negra e a luta incessante da população negra por respeito, dignidade e igualdade. Pela primeira vez, essa data é um feriado nacional — um avanço inegável na visibilidade de uma causa que já deveria ser inquestionável. E, em um país onde a luta por direitos básicos ainda causa desconforto a tantos, surge uma pergunta: por que, para algumas pessoas, o punho cerrado — símbolo de resistência e orgulho — ainda incomoda tanto?

O gesto do punho fechado ergue-se desde os tempos da diáspora africana, durante a colonização, e mais tarde, durante os movimentos de libertação e luta pelos direitos civis. Ele se tornou um emblema universal de resistência. É um gesto simples, mas carregado de um significado profundo e de uma história marcada pelo sofrimento, pela perseverança e, principalmente, pelo desejo de liberdade. Não é um gesto que representa ódio ou superioridade; é, antes de tudo, um pedido de igualdade. Um pedido que, séculos depois, segue sem resposta satisfatória em uma sociedade que insiste em fingir que o racismo é um problema do passado.

Incomodar-se com o punho cerrado ergue uma questão desconfortável para muitos: por que a luta pela igualdade ainda é vista como uma ameaça? Talvez porque ela denuncie as desigualdades que, mesmo veladas, ainda sustentam os privilégios e a estrutura social do país. Afinal, quando se trata de entender que a história de exploração e opressão dos negros tem implicações até hoje, muitos preferem desviar o olhar. É mais fácil negar o racismo estrutural e suas consequências do que enfrentar o fato de que a sociedade brasileira se ergueu — e prosperou — à custa do suor e do sangue de uma população escravizada. O punho cerrado desafia essa conveniência, e é exatamente por isso que ele é tão potente.

A resistência incomoda porque ela é um espelho que revela as desigualdades sociais que tentam ser ignoradas. Quando uma pessoa negra ergue o punho, ela não está apenas lembrando uma história de dor, mas afirmando a própria identidade e o orgulho de sua ancestralidade. E este gesto, que representa poder e união, desestabiliza uma estrutura de poder que, historicamente, fez de tudo para apagar a voz negra.

Neste primeiro 20 de novembro como feriado nacional, é um momento para todos nós refletirmos sobre a importância desse gesto. Não é um dia de descanso ou celebração vazia, mas um chamado à consciência — negra e não-negra. O punho erguido simboliza, sim, uma luta que ainda não terminou e, por isso mesmo, não será abaixado enquanto houver opressão e racismo. Que este feriado não seja apenas um dia marcado no calendário, mas uma lembrança de que a luta por igualdade não é passado, é presente.

O desconforto que o punho cerrado gera em alguns é uma indicação de que ele está cumprindo seu papel: incomodar a inércia, confrontar a ignorância e nos lembrar de que, enquanto uma parte da população for marginalizada, não haverá paz verdadeira para ninguém. Enquanto ele incomodar, saberemos que é necessário. Afinal, não é o gesto em si que é uma ameaça, mas a verdade que ele representa. E, como o próprio Zumbi, esse símbolo de luta e orgulho não será silenciado.


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Talles Costa

Editor-chefe do Portal Independente Jornalista Esportivo e Político

31 9 9537-0309 | tcjornalista@gmail.com

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