Mostra em BH usa arte para lembrar tragédia de Brumadinho e alertar sobre mineração
- Guilherme Almeida
- há 1 dia
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Depois de passar por cidades como São Paulo, Belém e Ouro Preto, a exposição “Paisagens Mineradas” desembarca na capital mineira com uma carga simbólica ainda mais potente. Belo Horizonte, que tem lidado com seus próprios conflitos envolvendo a atividade minerária, como a luta pela preservação da Serra do Curral, agora é palco de uma reflexão profunda sobre os danos irreversíveis causados por esse modelo predatório de exploração do solo.
Com curadoria assinada por Isadora Canela, a mostra apresenta uma diversidade de linguagens visuais, como videoarte, fotografia, instalação, gravura e pintura. Todas as obras partem de vivências e visões de mulheres artistas — entre elas Luana Vitra, Shirley Krenak, Isis Medeiros, Beá Meira e o Coletivo ASA de Ouro Preto —, que se debruçam sobre temas como a destruição ambiental, a resistência de comunidades atingidas e as formas de cura e regeneração possíveis após o trauma.
Entre as questões centrais abordadas está o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, tragédia que marcou profundamente não só a cidade e seus moradores, mas todo o estado e o país. A exposição ganha força ao lembrar que o desastre não foi fruto do acaso, mas de negligência e ganância. “A busca por justiça permanece e é urgente manter viva a memória das vítimas. Não podemos permitir que esse crime seja esquecido ou repetido”, afirmou Helena Taliberti, presidente do instituto responsável pela exposição e mãe de duas vítimas da tragédia.
Segundo Marina Kilikian, coordenadora do projeto, levar a exposição à capital mineira é ampliar o debate num território diretamente atravessado pelos conflitos gerados pela mineração. Ela reforça que, mais do que provocar reflexão, a arte tem um papel de mobilização e educação: “A proposta é tocar quem vive aqui e que, muitas vezes, está distante das decisões que impactam diretamente seus territórios”.
A diretora da Funarte em Minas Gerais, Aline Vila Real, destacou que a exposição vai além da denúncia. “É uma convocação à ação, uma chance de repensar nosso papel enquanto sociedade frente aos desafios ambientais do nosso tempo”, disse.
Dados levantados pela UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) indicam que a mostra já foi vista por mais de 30 mil pessoas em todo o Brasil. Mais da metade dos visitantes (57,7%) afirmaram que a experiência mudou sua forma de perceber os impactos da mineração. Além disso, 75% disseram que saíram da exposição motivados a buscar mais informações sobre o tema.
A mostra conta com recursos de acessibilidade, incluindo audioguias, intérprete de Libras e equipe de mediação capacitada para receber o público. As visitas podem ser feitas de quarta a domingo, das 15h às 20h, no Galpão 5 da Funarte, localizado na rua Januária, 68, centro de BH.
Em Brumadinho, onde ainda se sentem os efeitos psicológicos, ambientais e econômicos do crime de 2019, a exposição surge como um gesto de solidariedade, reparação simbólica e luta por transformação. Muitos brumadinhenses já têm se organizado para visitar a exposição na capital.
*Com informações de O Tempo
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