Há pelo menos duas décadas, moradores de Brumadinho convivem com o problema recorrente de carros estacionados em ruas e praças tocando música em volume exagerado. De funk a sertanejo, os estilos variam, mas o impacto é sempre o mesmo: perturbação para quem deseja descansar e viver com tranquilidade em suas casas. O problema, já alvo de constantes denúncias, vem crescendo e revelando tanto o desrespeito de alguns quanto a insuficiência de medidas efetivas para coibi-lo.
Uma moradora do bairro Santa Efigênia relata que, pelo menos uma vez por semana, precisa lidar com o som ensurdecedor de um carro que estaciona na esquina de sua casa e fica mais de uma hora tocando funk. “A gente não consegue assistir TV, dormir ou até conversar dentro de casa. Já tentei dialogar, mas o motorista ignora. É insuportável”, desabafa.
No Planalto, outra moradora conta que grupos se reúnem frequentemente para lavar carros enquanto ouvem música em volumes altíssimos. “Já chamei a polícia diversas vezes, mas nada foi feito. O barulho é tanto que a vibração das janelas incomoda até dentro de casa. Parece que ninguém se importa com os moradores”, afirma.
Além de ser uma prática incômoda, o som alto vindo de carros é classificado como crime de importunação, de acordo com o artigo 42 da Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei nº 3.688/1941). A legislação prevê multa e até prisão para quem perturba o sossego público, especialmente em horários noturnos. No entanto, a falta de fiscalização efetiva contribui para a perpetuação do problema. Em muitos casos, a polícia chega apenas após o som já ter sido desligado, o que dificulta a punição dos responsáveis.
Os prejuízos causados pelo som alto não se limitam ao incômodo social. Exposição a volumes acima de 85 decibéis pode causar sérios danos à saúde auditiva, como perda parcial da audição e zumbidos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para efeito de comparação, muitos sistemas de som automotivo podem atingir 120 decibéis ou mais, patamar que, além de ser prejudicial à audição, pode causar aumento da pressão arterial, estresse e insônia nas pessoas expostas, mesmo que indiretamente.
O impacto psicológico também é significativo. O barulho constante é capaz de elevar os níveis de ansiedade e irritabilidade, prejudicando o bem-estar geral. Em bairros como o Santa Efigênia e o Planalto, moradores relatam ter dificuldades em manter o foco em atividades simples ou dormir à noite devido à intensidade do som. “Meu filho pequeno acorda chorando sempre que começa a barulheira. Isso afeta toda a rotina da nossa família”, conta outra residente do Santa Efigênia.
As autoridades recomendam que os cidadãos denunciem os casos de som alto para a polícia, reunindo provas como vídeos ou fotos, e insistam na cobrança por medidas concretas. Além disso, é importante promover campanhas de conscientização sobre o impacto do ruído no ambiente urbano e na saúde pública, buscando um equilíbrio entre o direito ao entretenimento e o respeito ao próximo.
O problema do som alto em carros reflete não apenas a falta de fiscalização, mas também a ausência de empatia por parte de quem insiste nessa prática. Moradores esperam que, com mais informações sobre os danos e com uma aplicação rigorosa da lei, a cultura do respeito ao silêncio seja valorizada em Brumadinho.
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