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"Dinheiro da Vale": vídeos satíricos sobre PTR geram revolta de familiares de vítimas em Brumadinho

  • Foto do escritor: Redação Portal Independente
    Redação Portal Independente
  • há 11 horas
  • 2 min de leitura
Foto - Redes Sociais
Foto - Redes Sociais

A retomada do Programa de Transferência de Renda (PTR), prevista para esta quarta-feira (17), data em que Brumadinho completa 87 anos de emancipação política, vem sendo acompanhada por uma enxurrada de vídeos publicados nas redes sociais em tom de humor e sátira sobre o recebimento do benefício. As postagens, muitas delas encenando situações como pessoas “acampando” na porta de bancos e outras instituições, fazendo piadas sobre filas, dinheiro fácil ou tratando o recurso como prêmio, têm causado forte revolta entre familiares das vítimas da tragédia-crime de 2019 e também entre moradores que, mesmo não tendo perdido parentes, se sentem atingidos pela banalização do sofrimento coletivo.

Os vídeos, que se multiplicam principalmente em plataformas de grande alcance, ignoram o contexto em que o PTR foi criado. O auxílio não nasceu de um programa social comum, mas de uma das maiores tragédias socioambientais da história do país, que matou 272 pessoas, destruiu comunidades inteiras e marcou para sempre a história de Brumadinho. Para familiares das vítimas, transformar esse recurso em motivo de brincadeira representa uma afronta direta à memória de quem perdeu a vida e à dor de quem segue lutando por justiça.

A indignação não se limita aos atingidos diretos. Parte expressiva da população do município também tem se manifestado contra o tom adotado nas publicações. Moradores apontam que o benefício está sendo tratado como “dinheiro da Vale”, desvinculado de sua origem trágica, como se fosse um ganho comum ou motivo de comemoração pública. Para muitos, o problema não está no direito de receber o auxílio — considerado legítimo e fruto de uma longa luta —, mas na forma desrespeitosa como o tema vem sendo explorado, com piadas, memes e encenações que desconsideram o peso histórico e humano do rompimento da barragem.

Familiares das vítimas lembram que, passados quase sete anos, ninguém foi condenado criminalmente pelo ocorrido e que duas vítimas seguem desaparecidas: Tiago Tadeu Mendes da Silva e Nathália de Oliveira Porto Araújo. Esses fatos reforçam a sensação de injustiça e tornam ainda mais dolorosa a exposição de conteúdos humorísticos ligados ao PTR. Para eles, cada parcela paga carrega o significado de vidas interrompidas, sonhos destruídos e uma cidade profundamente ferida.

O debate ganhou ainda mais força pelo simbolismo da data. O retorno do PTR ocorre no aniversário de Brumadinho, momento que tradicionalmente remete à história, à identidade e à memória do município. Para muitos moradores, a data deveria ser marcada por reflexão e respeito, e não por conteúdos que tratam a tragédia como pano de fundo para entretenimento digital.

Em meio à circulação massiva desses vídeos, cresce o apelo para que influenciadores e usuários das redes sociais adotem mais responsabilidade ao abordar o tema. Em Brumadinho, o dinheiro do PTR não é visto apenas como auxílio financeiro, mas como um símbolo de uma tragédia ainda não reparada. A crítica que ecoa nas ruas e nas redes é clara: receber o benefício é um direito, mas transformar dor, morte e injustiça em piada é uma ferida aberta que muitos se recusam a aceitar.

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