'Brumadinho, 87 anos: um hino que ainda nos reconhece'
- Talles Costa

- há 1 dia
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Brumadinho completa hoje 87 anos de emancipação política. E há aniversários que não cabem apenas em datas; eles pedem silêncio, memória e coragem para encarar o presente. Ao reler o hino do município — letra de Zilda Andrade, melodia de Edwin Costa — é impossível não perceber como ele permanece atual, não como peça de arquivo, mas como espelho vivo do que fomos e do que ainda somos.
“A nossa terra adormecida…”, diz o verso inicial. Talvez nunca tenhamos estado tão despertos. Brumadinho já não dorme há tempos. Aprendeu, à força, que vigiar também é uma forma de amar. A terra que um dia repousava à sombra da ferrovia hoje carrega marcas profundas, mas segue em pé, com raízes fincadas mais fundo do que qualquer dor tentou arrancar.
“O trabalhador aqui chegou.” Chegou ontem, chega hoje, chegará amanhã. É o trabalhador que sustenta a cidade quando o noticiário vai embora, quando as promessas se calam e quando o cotidiano insiste. É nele que Brumadinho continua existindo, entre turnos, enxadas, cadernos, ônibus e sonhos adiados.
As “riquezas do solo”, cantadas com orgulho no hino, ainda estão aqui. Mas hoje sabemos que riqueza não é apenas o que se extrai — é, sobretudo, o que se preserva. A flora linda, a fauna admirável e as paisagens naturais seguem enfeitando a cidade, mesmo feridas. Elas resistem, como resiste o povo, ensinando que desenvolvimento sem cuidado cobra um preço alto demais.
À “bela sombra dos Três Irmãos”, Brumadinho escreveu e ainda escreve sua história. As montanhas observam tudo em silêncio, guardando memórias, perdas e recomeços. Dentro das serras, a cidade se resguarda. E talvez nunca essa palavra tenha feito tanto sentido: resguardar a vida, o território, a memória e o futuro. Trabalhando, sim, mas com a consciência de que glória verdadeira não se constrói atropelando gente.
O Paraopeba continua sendo um grande rio. Corre, às vezes turvo, às vezes sereno, sempre presente. Quando a fina bruma da manhã cai, ainda cobre o povo — não mais apenas com vaidade, mas com a dignidade silenciosa de quem sobreviveu, de quem aprendeu a não se calar e de quem sabe que lembrar também é um ato de responsabilidade coletiva.
“Todas as estradas que atravessam são caminhos pro progresso.” Hoje, talvez, Brumadinho saiba que progresso precisa ter destino certo. Que não basta acolher o visitante se não houver cuidado com quem mora. Que não adianta avançar se o chão não for seguro para pisar.
E, ainda assim, o refrão permanece verdadeiro. Brumadinho está presente. Presente na luta, no debate, na reconstrução diária. Progredindo, mesmo entre tropeços. Triunfante não pelo que perdeu, mas pelo que se recusa a perder: sua gente.
Aos 87 anos, Brumadinho segue gigante nas Gerais. Não pelo tamanho, mas pela história. Não pela riqueza, mas pela resistência. E continua escrevendo, verso por verso, a própria crônica — inspirada em um hino que segue vivo porque ainda fala de nós.
Hino de Brumadinho Letra por Zilda Andrade
Melodia por Edwin Costa A nossa terra adormecida...
O trabalhador aqui chegou.
Ao longo desta importante ferrovia,
Logo o nosso município se criou.
Brumadinho tem riquezas:
Solo fértil em minerais;
A flora é linda e a fauna admirável
Enfeitando as paisagens naturais.
A bela sombra dos três irmãos
Nós escrevemos a nossa história...
Dentro das serras, a cidade se resguarda,
Trabalhando e construindo a sua glória.
Oh! Brumadinho, sempre presente!
Progredindo, triunfante...
Destacando-se neste imenso país...
Das gerais, você será, sempre, gigante!
Paraopeba é um grande rio
Embelezando a cidade.
De manhãzinha, quando cai a fina bruma
Cobre o seu povo com uma justa vaidade.
Todas estradas que atravessam
São caminhos pro progresso.
Acolhem, com prazer, amigo visitante
Que não mais pensa em regresso!
Oh! Brumadinho, sempre presente!
Progredindo, triunfante...
Destacando-se neste imenso país...
Das gerais, você será, sempre, gigante!


















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