Pesquisa revela que incêndios no Rola-Moça reduzem infiltração de água e aumentam risco hídrico
- Talles Costa
- 17 de mar.
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Um estudo recente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelou que o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça perdeu 40% de sua cobertura vegetal nos últimos 50 anos devido a incêndios florestais. A pesquisa, publicada no periódico Total Environment Advances, alerta para os graves impactos ambientais, como a redução da capacidade de recarga hídrica, que ameaça o abastecimento de água em Brumadinho e na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Além disso, a devastação aumentou em 25% o escoamento superficial da água e reduziu em 18% a infiltração no solo, elevando os riscos de colapso hídrico e inundações durante chuvas intensas.
A pesquisa, realizada em parceria com instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o United States Geological Survey (USGS), utilizou imagens de satélite, modelagem hidrológica e visitas de campo para analisar as mudanças na cobertura vegetal e seus efeitos no ciclo da água. Segundo Evandro Luís Rodrigues, um dos autores do estudo e doutor em Ecologia pela UFMG, a perda das florestas de galeria impede que a água das chuvas infiltre no solo, reduzindo a recarga dos lençóis freáticos. “Sem a vegetação, a água escoa rapidamente pela superfície, sem tempo para abastecer os aquíferos”, explica.
O professor Geraldo Wilson Fernandes, também envolvido na pesquisa, destacou que as florestas são mais eficientes que campos e savanas no processo de infiltração da água. “Essa diferença é crucial em uma área vital para o abastecimento de milhões de pessoas”, afirma. O estudo ainda identificou a expansão de vegetação savânica nas bordas das matas, mais inflamável e propícia à propagação de incêndios, agravando o problema.
Os incêndios criminosos, como o que consumiu mais de 300 hectares do parque durante o Carnaval deste ano, têm sido uma constante na região. Brigadistas e bombeiros trabalharam por três dias para controlar as chamas, mas os danos ao ecossistema são profundos e duradouros. A pesquisa reforça a necessidade urgente de ações coordenadas entre poder público, iniciativa privada e comunidades locais para combater os incêndios e preservar o parque, essencial para a segurança hídrica da região.
Para Brumadinho, cidade que já enfrentou tragédias ambientais recentes, como o rompimento da barragem da Vale, a preservação do Rola-Moça é ainda mais crítica. O parque não só abriga uma rica biodiversidade, mas também desempenha um papel fundamental na manutenção dos recursos hídricos que abastecem a população local e a região metropolitana. A degradação contínua do ecossistema pode agravar ainda mais os desafios ambientais e sociais enfrentados pela cidade.
O estudo, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), serve como um alerta para a sociedade e os governantes. A preservação do Parque da Serra do Rola-Moça não é apenas uma questão ambiental, mas uma necessidade urgente para garantir a segurança hídrica e a qualidade de vida de milhões de pessoas.
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