Parceria entre CRESAN e Ecovila Coração da Mata resgata e preserva abelhas nativas
- Talles Costa

- 9 de set.
- 3 min de leitura

Em um cantinho especial da encosta da Serra da Moeda, no distrito de Piedade do Paraopeba, um trabalho silencioso e vital floresce há anos, tornando Brumadinho uma referência nacional na proteção da vida. É o Santuário das Abelhas Nativas, um projeto nascido em 2013 pelas mãos do especialista Maurício Oliveira e do morador Robson Marques, que encontra na Ecovila Coração da Mata um dos seus principais parceiros. Este santuário, que mais tarde se estruturaria como o pioneiro Centro de Resgate, Estabilização e Soltura de Abelhas Nativas (CRESAN), é a última esperança para milhares de abelhas nativas resgatadas de situações de risco em todo o município, um serviço ambiental gratuito que impacta diretamente a segurança alimentar e a biodiversidade da região.
O coração deste projeto bate mais forte na Ecovila Coração da Mata, como relata Bárbara Pessale Marques. "É um prazer gigantesco receber essas abelhas aqui", diz ela, explicando que a filosofia de vida do local, vegetariana e vegana, se alinha perfeitamente com a missão do santuário. "Nós respeitamos as abelhas. O nosso santuário não tem exploração animal. Elas vêm pra cá pra recuperar e pra regenerar no seu habitat natural, dentro do tronco das árvores", enfatiza Bárbara, destacando o orgulho indescritível de fazer parte de uma iniciativa tão crucial, "um trabalho que sem ele não haveria vida".
A paixão e o conhecimento incomparável de Maurício Oliveira, citados por Bárbara, são a força motriz por trás do CRESAN, oficializado em 2018. Sua dedicação, que começou de forma quase casual em 2000 dentro do Instituto Inhotim, transformou-se em uma missão de vida técnica e apaixonada. O trabalho vai muito além de um simples resgate. Quando um ninho é identificado em uma árvore condenada, em um muro prestes a ser rebocado ou em um terreno para construção, a equipe do CRESAN é acionada. Eles realizam um meticuloso processo de georreferenciamento, monitoramento, resgate preventivo e triagem, transladando as colmeias para caixas climatizadas e seguras.
A etapa final, talvez a mais importante, é a chamada "adoção responsável". Os ninhos resgatados são entregues a uma rede de "Amigos Polinizadores" – moradores, agricultores, escolas e empreendimentos cadastrados que se comprometem a cuidar das abelhas. Locais como o Rancho Peixe, o Sítio Fotossíntese e a própria Ecovila Coração da Mata abrigam essas preciosas colônias, reinserindo-as com segurança no território de Brumadinho para que continuem seu serviço essencial de polinização.
Todo esse esforço é respaldado por uma legislação municipal visionária. Brumadinho foi a primeira cidade do Brasil a sancionar uma lei específica de proteção às abelhas nativas (Lei 2.355/2017), que proíbe a destruição de ninhos sem avaliação prévia e autorização. Essa lei não apenas protege os polinizadores, mas também coloca a responsabilidade ambiental diretamente nas mãos do poder público e dos empreendedores, que devem buscar o CRESAN para regularizar suas intervenções no meio ambiente.
Para os brumadinhenses, o CRESAN é mais do que um centro de resgate; é uma garantia de futuro. A polinização feita por essas abelhas nativas – espécies como Jataí, Mandaçaia e Cupira, todas sem ferrão – é fundamental para a agricultura local, para a regeneração das matas da Serra da Moeda e, consequentemente, para a qualidade de vida de toda a comunidade. O trabalho de Maurício e de parceiros como Bárbara e a Ecovila Coração da Mata prova que desenvolvimento e preservação podem, e devem, andar juntos, colocando Brumadinho no mapa nacional como um exemplo de convivência harmoniosa e responsável com a natureza.


















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