Moradores relatam pânico e crises de choro com helicóptero sobrevoando Brumadinho
- Talles Costa
- 16 de jun.
- 2 min de leitura

Neste último final de semana, um helicóptero de turismo sobrevoou por diversas horas os céus de Brumadinho. O que poderia ser encarado como uma nova forma de explorar as belezas naturais do município se transformou em um gatilho de dor para dezenas de moradores que ainda convivem com traumas profundos da tragédia do dia 25 de janeiro de 2019.
O som repetitivo do helicóptero rodando sobre bairros e comunidades fez reacender lembranças que muitos tentam, em vão, esquecer. “Eu fechei os olhos e senti meu corpo arrepiar. Era como se tudo estivesse acontecendo de novo”, relatou uma moradora, em mensagem enviada ao Portal Independente. “Fiquei com falta de ar. O barulho, as voltas, o tempo que demorou… tudo aquilo me fez voltar pra aquele dia”, completou outra.
Entre os relatos, muitos destacam o impacto nas pessoas que perderam familiares ou presenciaram de perto o caos nos dias que sucederam o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão. À época, o céu da cidade foi preenchido por aeronaves resgatando corpos, transportando equipes de resgate e sobrevoando os locais afetados pela lama tóxica da Vale. A lembrança desse cenário ainda é viva, e qualquer semelhança sonora traz de volta imagens e sensações que desencadeiam crises emocionais.
Uma antiga moradora do bairro Parque da Cachoeira, uma das áreas mais afetadas pela tragédia, contou que a filha adolescente teve uma crise de choro e que precisou ser medicada. “Ela ficou encolhida na cama, tremendo, dizendo que os helicópteros tinham voltado. Eu, como mãe, só posso tentar consolar. Ela tinha 8 anos à época. Ninguém entende essa dor como a gente que vive aqui desde antes de tudo acontecer. Hoje moramos no Bela Vista, mas revivemos o Parque naqueles dias,” comentou.
Apesar de não haver proibição formal de voos na cidade, moradores questionam a falta de sensibilidade com a memória coletiva da população local. “Brumadinho é mesmo lindo de cima, eu já vi. Mas há formas e momentos certos de oferecer esse tipo de turismo. O balão, por exemplo, é uma extraordinária saída. Não dá pra ignorar o que o barulho do helicóptero representa pra quem viu o pior acontecer”, comentou um homem em uma rede social.
A população pede que as autoridades reflitam sobre os impactos emocionais desse tipo de atividade, propondo que os voos sejam repensados com a participação da comunidade e de especialistas em saúde mental.
Para muitos brumadinhenses, os sons que cortam o céu ainda ferem mais do que a vista pode contemplar. Se a cidade busca recomeçar, o respeito às marcas deixadas pela tragédia é o primeiro passo para reconstruir também o lado invisível da dor: o emocional.
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