
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) decidiu cancelar o registro profissional do geólogo Cesar Grandchamp, um dos réus no processo que investiga as responsabilidades pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. A decisão, tomada após um processo ético instaurado logo após a tragédia, impede o profissional de exercer atividades fiscalizadas pelo conselho. O rompimento, ocorrido em 25 de janeiro de 2019, completa seis anos e deixou 272 mortos, além de provocar um rastro de destruição ambiental e social que afeta Brumadinho e toda a bacia do Rio Paraopeba.
Grandchamp foi um dos responsáveis por assinar o laudo de estabilidade da barragem antes do colapso da estrutura. O documento, necessário para a continuidade das operações, foi emitido em junho de 2018 com a chancela da consultoria alemã Tüv Süd e da Vale. Apesar de o fator de segurança calculado ter sido de 1.09 — abaixo do mínimo recomendado de 1.3 —, o laudo validou a condição da barragem. Em depoimento prestado em 2019, Grandchamp alegou que confiou integralmente nos especialistas da Tüv Süd e nos setores de geotecnia da Vale, afirmando não ter especialidade em barragens.
O cancelamento do registro se baseou no artigo 75 da Lei Federal 5.194/1966, que prevê punições para profissionais cuja conduta seja considerada inadequada ou cause escândalo. A decisão também citou incisos da Resolução 1.090/2017 do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), que definem má conduta pública e ações que ferem a moral ou causam indignação na sociedade. O Crea-MG, no entanto, não revelou quais atos específicos de Grandchamp motivaram a punição, alegando sigilo do processo.
O geólogo continua a responder criminalmente pelo caso ao lado de outros 15 réus, incluindo executivos da Vale e da Tüv Süd. Inicialmente, a ação penal foi conduzida pelo Ministério Público de Minas Gerais, mas foi transferida para a esfera federal em 2023, reiniciando o processo. Atualmente, os advogados dos acusados estão no prazo de apresentação das defesas. Em 2024, o ex-presidente da Vale, Fábio Schvartsman, conseguiu habeas corpus e deixou a condição de réu, decisão contestada pelo Ministério Público Federal.
Grandchamp não é o único a enfrentar sanções fora do processo criminal. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aplicou multa de R$ 27 milhões a Gerd Peter Poppinga, ex-diretor-executivo de Ferrosos e Carvão da Vale, por negligência diante dos riscos da barragem. No mesmo caso, Schvartsman foi absolvido. Em relação ao Crea-MG, não há informações sobre outros profissionais que possam ser penalizados no futuro.
A tragédia de Brumadinho escancarou falhas nos processos de segurança das mineradoras e na fiscalização das barragens. A sensação de impunidade cresce entre os moradores da cidade, que ainda sofrem com as consequências do desastre. Enquanto a busca por justiça se arrasta, os impactos ambientais e sociais seguem afetando a vida de milhares de pessoas na região.
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