Era um dia como qualquer outro, em Brumadinho, até que o inesperado se abateu sobre essa comunidade. Há exatos cinco anos, no dia 25 de janeiro de 2019, o rompimento da barragem da Vale trouxe consigo uma onda de destruição que deixou cicatrizes profundas na cidade e em todos os corações que testemunharam a tragédia.
Naquele momento crítico, o jornalismo emergiu como uma luz guia, uma voz que quebrava o silêncio ensurdecedor da lama. A necessidade de informação tornou-se mais premente do que nunca, e os jornalistas desempenharam um papel crucial na busca pela verdade e na disseminação das informações necessárias para entender e lidar com a calamidade.
Veículos de diversas partes do Brasil e do mundo se conectaram. Me conectaram. Sou nativo e estava na cidade no exato momento em que a barragem se rompeu. O fato ocorreu às 12h28pm, e em menos de 30 minutos depois eu já havia recebido mais de 50 ligações de jornalistas de várias partes. Eu não me dei conta do que havia acontecido porque a situação jornalística me pegou desprevenido, e eu era considerado uma fonte bastante positiva por cinco motivos: 1) morador local e conhecedor da região; 2) havia trabalhado com consultoria em cidades atingidas pelo rompimento de barragem de Mariana-MG; 3) sou jornalista e tinha estrutura física para receber e auxiliar a imprensa; 4) mantia contato direto com diversas autoridades locais; e 5) perdi um primo-irmão e amigos na tragédia. (Fui viver meu luto praticamente um mês após o ocorrido, quando localizaram o corpo do meu primo e pudemos sepultá-lo). Sem dúvida esse papel da imprensa, em ocupar lacunas — inclusive do luto, fez com que eu me sentisse próximo de todo globo terrestre, informando, orientando, cuidando e vivendo meu luto oculto.
Ao se aproximar do quinto aniversário da tragédia, é imperativo refletir sobre a importância do jornalismo nesse contexto. Os jornalistas, de forma geral, foram os mensageiros incansáveis que deram voz às vítimas, expuseram as falhas no sistema e exigiram justiça. Sem esse quarto poder, a verdade poderia ter se perdido na vastidão da lama, e as lições cruciais que Brumadinho oferece ao mundo teriam sido soterradas. E não, não serão.
A cobertura jornalística foi mais do que a mera transmissão de fatos; foi um compromisso com a responsabilidade social. Jornalistas corajosos adentraram áreas de risco para documentar a devastação, deram voz aos sobreviventes e destacaram a importância de medidas preventivas para evitar futuras tragédias semelhantes.
Além disso, o jornalismo foi um catalisador para a mobilização social. As reportagens não apenas informaram, mas também inspiraram a solidariedade e a compaixão. As doações, a assistência humanitária e os esforços de reconstrução ganharam força à medida que as histórias das vítimas foram compartilhadas amplamente.
Entretanto, o papel do jornalismo não se encerrou com a conclusão das primeiras reportagens. Cinco anos depois, os repórteres continuam a questionar, investigar e acompanhar as consequências da tragédia. A cobertura jornalística persistente é um lembrete de que a justiça deve ser uma busca contínua, não uma conclusão rápida.
À medida que nos lembramos da tragédia-crime em Brumadinho, celebremos também a importância vital do jornalismo. Não apenas como um veículo de informação, mas como um guardião da verdade, um defensor dos desfavorecidos e um catalisador para a mudança. Que a memória daquele trágico dia sirva como um chamado constante para uma imprensa livre, ética e comprometida com o bem comum.
Hoje, data dessa crônica, eu estou de folga. Apenas eu. Milhares de colegas estarão trabalhando. Mais do que levar informação, preciso levar força. Muitos me conhecem como o Talles Jornalista, mas hoje peço licença para ser o Talles - primo do Hugo, da Lays, e sobrinho da Tia Nair. Força aos seus e aos meus.
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Talles Costa
Editor-chefe do Portal Independente Jornalista Esportivo e Político
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Jamais cairá no esquecimento. Brumadinho econtra em você uma voz tenaz e desprendida de vícios, meu amigo. Todo o meu respeito a você e aos Costa.
Realmente o jornalismo foi e continua sendo o termômetro deste crime. Parabéns pela sua percepção e capacidade de traduzi-la tão bem aos leitores do portal.
Parabéns pelo texto e história!