Neste sábado (14), mais de 250 mulheres atingidas pelo crime da Vale em Brumadinho se reunirão em Belo Horizonte para discutir os impactos na saúde e no meio ambiente após o rompimento da barragem, ocorrido há mais de cinco anos. O encontro visa debater as consequências que ainda afetam diretamente as vidas das atingidas da Bacia do Paraopeba, abordando desde doenças respiratórias até a sobrecarga de trabalho doméstico causada pela poeira dos rejeitos, além de buscar formas de avançar na reparação dos danos sofridos.
Entre as participantes estão mulheres de diversas cidades atingidas, como Brumadinho, Betim, Mário Campos, Igarapé e Juatuba, onde a maior parte da população afetada é composta por mulheres, conforme aponta um levantamento de 2023 da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (AEDAS). O estudo revelou que 65% dessas mulheres são negras e que muitas delas, com idades entre 19 e 54 anos, dependiam diretamente do Rio Paraopeba para atividades econômicas como pesca e agricultura, cuja interrupção afetou drasticamente suas vidas.
Além de Brumadinho, o crime ambiental também impacta mulheres de outras regiões, como Juatuba, representada por Joelisia Feitosa, que destacou a ausência de consulta prévia antes do empreendimento. "Ser mulher atingida é ter sua vida e seus sonhos modificados por um empreendimento que não considerou nossa opinião, nem nos informou das consequências", afirma. Esse sentimento reflete a frustração e o abandono que muitas mulheres da região ainda enfrentam.
Os efeitos do crime não se limitam apenas ao ambiente. As atingidas relatam graves problemas de saúde, incluindo alergias, depressão e doenças respiratórias, além da contaminação contínua pela poeira dos rejeitos, que invade suas casas. Michelle Regina, moradora de Betim, destacou a forma como essa realidade afeta a rotina das mulheres, sobrecarregando-as com mais trabalho doméstico e o constante medo de contaminação.
O encontro contará também com a presença de mulheres atingidas por outros crimes ambientais, como o de Mariana e de projetos de exploração de lítio no Vale do Jequitinhonha, além de representantes da Defensoria Pública e do Ministério Público de Minas Gerais, parlamentares e outras autoridades. A presença dessas figuras reforça a urgência de se discutir a garantia de direitos e a necessidade de ações concretas para reparar os danos sofridos pelas comunidades atingidas, em especial pelas mulheres.
Mesmo após cinco anos, a vida das mulheres atingidas pela tragédia continua marcada pela luta diária por reparação e justiça. O encontro em Belo Horizonte representa mais um passo na busca por visibilidade e pela defesa da vida e dos direitos das mulheres, que seguem sendo diretamente impactadas pelos efeitos do maior crime ambiental da história de Minas Gerais. A necessidade de soluções efetivas e de um plano de reparação é, mais do que nunca, uma demanda urgente para essas comunidades.
Comments