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Foto do escritorTalles Costa

Ameaça silenciosa: 42 mil mineiros vivem sob risco de barragens sem garantias de segurança

Foto - Divulgação

A segurança das barragens em Minas Gerais continua sendo motivo de apreensão para milhares de moradores que vivem sob risco constante. Um total de 42 mil pessoas habita as chamadas Zonas de Autossalvamento, áreas que seriam as primeiras a serem atingidas caso ocorra um rompimento, deixando pouco ou nenhum tempo para resgates. Nesses locais, os habitantes enfrentam orientações rígidas para evacuação imediata em caso de emergência, mas muitas vezes não contam com infraestrutura suficiente para agir rapidamente.

Em Brumadinho, a situação é especialmente crítica. Quatro barragens da Emicon Mineração e Terraplanagem, localizadas na Serra da Conquista, estão classificadas em nível 1 de emergência e permanecem embargadas. Mesmo com uma capacidade de rejeitos menor do que a que devastou o município em 2019, essas estruturas acumulam riscos elevados tanto para a população quanto para o meio ambiente. As barragens Quéias, B1A, Dique B3 e Dique B4, que juntas retêm cerca de 118 mil metros cúbicos de rejeitos, não possuem Declaração de Condição de Estabilidade (DCE), documento essencial que comprova a segurança das construções.

A Barragem Quéias, a maior das quatro, está localizada a menos de um quilômetro da BR-381, rodovia de extrema importância para a região, e a 5,5 quilômetros do reservatório de Rio Manso, que abastece 1,5 milhão de pessoas. Em caso de rompimento, os rejeitos poderiam contaminar os cursos d'água que alimentam a barragem, afetando o sistema de abastecimento e devastando comunidades rurais no caminho. O impacto ambiental também seria significativo, com a destruição de áreas protegidas e estradas rurais utilizadas para atividades agrícolas.

Moradores como Nísio Ronaldo de Oliveira e sua esposa, Lourdes Pereira de Souza, relatam o medo constante, agravado pelas chuvas de fim de ano. Para eles, o som da sirene, que deveria servir de alerta, traz mais angústia do que segurança. "Se a barragem rompe, a água vem sem aviso. Não dá tempo de salvar nem as criações", desabafa Lourdes. Nísio acrescenta: "Aqui é nosso lar, mas ficar no risco também não dá. É uma vida de incertezas."

As barragens sem garantias estão entre as 23 estruturas em Minas Gerais que precisam ser descaracterizadas até 2035, em cumprimento a um acordo com o Ministério Público. Essa técnica busca eliminar os riscos associados às barragens, revertendo as áreas para uma condição próxima à natural. Contudo, o processo é lento, e muitas estruturas continuam oferecendo perigo significativo.

Além das falhas na documentação, os reservatórios embargados apresentam problemas estruturais graves, como infiltrações, trincas e falhas nos sistemas de drenagem. Segundo a ANM, 10 das barragens críticas foram construídas pelo método de alteamento a montante, o mesmo usado nas tragédias de Mariana e Brumadinho e proibido após esses desastres. Ainda assim, essas estruturas seguem retendo volumes expressivos de rejeitos, cerca de 10 vezes mais do que o despejado na tragédia de Mariana, em 2015.

Para Brumadinho, que ainda carrega as marcas do rompimento da barragem da Vale em 2019, a ameaça de novos desastres é um lembrete doloroso da negligência histórica com a segurança das barragens em Minas Gerais. A falta de estabilidade atestada, somada ao descaso com as comunidades locais, expõe uma população já traumatizada ao risco contínuo de mais perdas humanas, ambientais e econômicas.


*Com informações do Estado de Minas

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